–
Vítor, você não sabe o que aconteceu ontem... – começou ela, com ar de
suspense.
–
O quê? – perguntei, curioso.
–
Uma lésbica chegou em mim!
–
E daí?
–
E daí?! Como assim “e daí”? Uma lésbica, Vítor, uma lésbica!
–
E qual o problema?
–
Eu não curto, sou hétero.
–
Ué, beleza. Era só ter falado pra ela...
–
Não, mas o problema não foi só esse. Além de ter vindo falar comigo – e, nesse
momento, uma expressão de nojo surgiu em sua face – ela veio se esfregando,
dançando até o chão.
–
Tá, mais aí você falou que não curtia, certo?
–
Sim, mas ela continuou, véi. Que nojo! Ela é lésbica, eu não curto.
–
Tá bem, mas ela não sabia que você não curte até você falar...
– Ela chegou se esfregando, relando em mim!
–
Olha, ela não sabia que você era hétero. Você podia ser lésbica e ter gostado,
não tinha como ela saber. Não tem vários homens que chegam em você também
relando, se esfregando? Tenho certeza que sim!
–
Sim, tem. E eu não gosto. Acho ridículo.
–
Então o “problema” não foi o fato de uma lésbica ter chegado em você. Pense se
a situação fosse o contrário: você é lésbica e chega um cara se esfregando em
você, dançando até o chão. Ele não sabia que você era lésbica... Você ficaria
ofendida do mesmo jeito, acharia um absurdo. O problema então foi o modo como
ela te abordou, faltando com respeito, o que você não gostou, e não o fato de
ela ser uma lésbica!
–
Ai, ainda assim, era uma lésbica...