quarta-feira, 22 de maio de 2013

A data mais importante e a palavra mais significativa para uma pessoa


As pessoas gostam de ser lembradas, felicitadas, elogiadas. E se tem uma data em que elas mais gostam disso, é, claramente, o dia do aniversário. Na verdade, é essa a atitude que elas esperam nesse contexto. Normalmente, a data mais importante para um indivíduo é o dia em que ele nasceu, que é quando os seus melhores amigos lhe felicitam, sua família quer comemorar mais um ano de convivência e a pessoa se sente feliz por todos lhe ligarem, desejarem boas coisas, quererem estar juntos e até, às vezes, fazerem surpresas.

Sabendo da importância que o dia do aniversário tem, eu faço questão de sempre mandar uma mensagem carinhosa para os meus amigos, em especial para aqueles com os quais eu mais me identifico, os do círculo mais próximo de amizades. Faço questão de ligar, quando é possível, escrever algo à mão, por achar mais significativo entregar um recado com a minha própria caligrafia, ou, pelo menos, mandar uma mensagem bonita por computador mesmo, ou então um sms por celular.

Nem todos nossos amigos se lembram de nos felicitar, é verdade. Mas, mesmo assim, eu continuo fazendo questão de dar os parabéns a eles nos seus respectivos dias. O aniversário é o “seu” dia, é a data em que você se sente especial, em que quer ter junto de si as pessoas que mais gosta, são as 24 horas mais significativas do ano para você. Eu sei da importância de mandar ao menos um simples “Feliz Aniversário!” para meus amigos mais próximos e, por ter medo de esquecer devido aos afazeres do dia a dia (mesmo sabendo de cor a data dos aniversários de todos eles), sempre marco, todo ano, na minha agenda, as datas dos aniversários de todos, para que eu não esqueça mesmo. Hoje em dia, com o Facebook, nem é preciso anotar na agenda. Basta se conectar nessa rede social todos os dias (o que já fazemos) e verificar quem está fazendo aniversário.

Se é o dia mais importante para a pessoa, a data em que eu posso lhe falar o quanto gosto dela, o quão especial ela é em minha vida, como eu gosto de conviver com ela, compartilhar ótimos momentos de risadas, mas também deixar claro que estou à disposição para os momentos de adversidades, o que me custa reservar cinco minutos do meu dia para entrar em contato com a pessoa?

Assim como o dia do aniversário é a data mais importante para uma pessoa, o nome de alguém é a palavra mais significativa para este indivíduo. Como ressalta Dale Carnegie, em seu livro “Como fazer amigos e influenciar pessoas”: “Lembre-se de que o nome de uma pessoa é para ela o som mais doce e mais importante que existe em qualquer idioma”. Claro que aqui, quando se fala em “nome”, deve-se entender o jeito como a pessoa gosta de ser chamada, seja o seu nome de batismo, o seu sobrenome, um apelido, uma abreviação do nome, etc.

No entanto, como o autor afirma, a maior parte das pessoas não dá muita importância para o nome dos outros (mas, ao mesmo tempo, ninguém gosta de que errem o seu nome ou o confundam): “A maioria das pessoas se esquece dos nomes pela simples razão de não dedicar a esse exercício o tempo e a energia necessários para concentrar, repetir e gravar indelevelmente os nomes na memória. Quase todos dão a desculpa de que são muito ocupados”.

Uma dica simples para não se esquecer do nome de uma pessoa é repeti-lo pelo menos três vezes assim que você conhecer a pessoa. Então, por exemplo, se você acabou de entrar em contato com alguém que se chama “Marlene”, repita o nome dela enquanto estiver conversando: “Mas então, MARLENE, você já tinha estado por aqui?”; “Me diz uma coisa, MARLENE, você conhece o local onde vai ser o show?”; “Então está bem, MARLENE, nos encontramos depois”; “Tchau, MARLENE, até mais!”. Pronto, repetindo o nome da pessoa você vai memorizá-lo mais facilmente. Outra dica é escrever o nome do sujeito que você acabou de conhecer em um pedaço de papel logo depois do encontro: ao escrever, e não simplesmente repetir, seu cérebro tende a memorizar melhor a palavra.

“Devemos atentar para a mágica que existe num nome e compreender que esse singular elemento pertence exclusivamente à pessoa com quem estamos lidando... e a ninguém mais. O nome destaca a singularidade do indivíduo, tornando-o único entre a multidão. A informação que comunicamos e a solicitação que fazemos em determinada situação assumem uma importância especial quando mantemos vivo em nossa mente o nome do indivíduo. Da garçonete ao diretor, o nome exercerá um efeito mágico enquanto lidamos com as pessoas”.

Podem reparar em suas vidas que, de fato, faz diferença quando alguém sabe o seu nome. Fiquei surpreso a última vez que cheguei à agência do banco no qual possuo uma conta (ia reclamar de um serviço) quando percebi que o gerente se lembrava do meu nome (e ele lembrava mesmo, porque eu não lhe tinha dado nenhum documento naquele dia e fazia algum tempo que não ia até à agência). Você sempre se sente mais importante na aula daquele professor que lhe chama pelo nome...

Todos gostam de ser lembrados. Todos gostam de se sentir especiais e únicos. Mas será que todos fazemos isso com os outros? Ou só queremos que façam com a gente? Será que custa tanto assim se esforçar um pouco mais? Ligue para o seu amigo no aniversário dele. Se não puder ligar, mande uma mensagem. Mas se lembre dele no dia que é a data mais importante para ele. Esforce-se ao menos. E se esforce também para chamar as pessoas pelos respectivos nomes; elas vão se sentir especiais, diferenciadas, e ficarão, com certeza, mais felizes com você do que antes.

Portanto, no dia do aniversário da Maria, do João, da Roberta ou do Antônio, programe-se para ao menos lhe desejar “Feliz Aniversário, querido(a) amigo(a) Maria/João/Roberta/Antônio!!”.



Sugestão de leitura:
Capítulo 3 da Parte II do livro “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, de Dale Carnegie.


quarta-feira, 15 de maio de 2013

A estratégia de construção de um inimigo comum





Os Estados Unidos da América se utilizam, desde a época da Guerra da Fria, em sua política externa, da estratégia de possuírem um inimigo externo. Conforme escreve Eric Hobsbawm, em seu livro A Era dos Extremos, “um inimigo externo ameaçando os EUA, não deixava de ser conveniente para governos americanos que haviam concluído, corretamente, que seu país era agora uma potência mundial”. Com o fim da União Soviética e, consequentemente, da Guerra Fria, os Estados Unidos se viram na necessidade de “encontrar” outro inimigo externo. Segundo Fred Halliday, em artigo publicado na revista Contexto Internacional, em 1994, o islamismo seria o inimigo da vez; essa ideia foi reforçada após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.

Não é só no âmbito internacional, da política externa, que se recorre à criação de um inimigo comum; verifica-se o mesmo na esfera nacional. Os evangélicos fundamentalistas, por exemplo, como afirma Magali Cunha¹, vêm historicamente se utilizando desse artifício: “Exércitos precisam de inimigos. A teologia de um Deus Guerreiro e Belicoso sempre esteve presente na formação fundamentalista dos evangélicos brasileiros, compondo o seu imaginário e criando a necessidade da identificação de inimigos a serem combatidos. Historicamente a Igreja Católica Romana sempre foi identificada como tal e sempre foi combatida no campo simbólico mas também no físico-geográfico. Da mesma forma as religiões afro-brasileiras também ocupam este lugar, especialmente, no imaginário dos grupos pentecostais”.

Como no caso dos Estados Unidos, o inimigo criado pelos evangélicos fundamentalistas também se modificou ao longo do tempo e hoje, certamente, conforme afirma Magali Cunha, são os homossexuais. A fim de se verificar essa constatação, basta olhar para os discursos do pastor Marco Feliciano, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara Federal. Presidente, aliás, cujo primeiro projeto proposto foi sobre a autorização para que a “cura gay” possa ser feita por parte dos psicólogos (que, caso seja aprovado, será um retrocesso de, pelo menos, 30 anos na história da Psicologia). Além disso, pode-se verificar que os evangélicos fundamentalistas elegeram os homossexuais como o maior inimigo atual ao ter acesso às declarações de outro pastor muito conhecido dos brasileiros: Silas Malafaia. Por fim, para ficar com um último exemplo, bem recente: ontem foi divulgado que a Frente Evangélica, que reúne os evangélicos do Congresso Nacional, está discutindo uma medida contra o ato do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) que aprovou, também ontem, resolução obrigando todos os cartórios do Brasil a celebrar o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo (a união estável, vale lembrar, já era garantida desde a manifestação favorável em maio de 2011, pelo Supremo Tribunal Federal).

A pergunta que resta, então, tanto no caso da política externa norte-americana, como na atitude dos evangélicos fundamentalistas no Brasil, é: por que se cria, constrói-se, elege-se, um inimigo comum àquele grupo?

Trata-se de uma questão identitária. Não existe recurso mais favorável para dar coesão a um grupo, para uni-lo, do que um inimigo comum, algo/alguém a ser combatido, perseguido. Nos casos mencionados, a criação do um inimigo é baseada em construções sociais feitas ao longo do tempo (“a homossexualidade é errada, é coisa do Diabo”) ou em generalizações perigosas (“todos os islâmicos são terroristas e querem acabar com os Estados Unidos da América”). Mas o fato é que esse inimigo imaginado confere força ao grupo, uma vez que dá a ele coesão, isto é, os indivíduos daquele grupo passam a pensar, em sua maioria, da mesma maneira, o que facilita um plano de ação, propostas políticas, etc (como uma guerra, por exemplo, no caso da política externa estadunidense).

Uma identidade sempre precisa de uma alteridade, ou de alteridades, para se constituir. Ou seja, necessitamos dos outros para saber quem somos e quem não somos. Portanto, a identidade sempre se dá em uma interação com a alteridade, o outro, o diferente. Afinal de contas, as identidades não são fechadas, imutáveis, absolutas, permanentes; pelo contrário, elas estão em constante processo de adaptação, de modificação, o que acontece, em especial, justamente devido a esse contato com os outros.

A estratégia de se construir um inimigo comum, entretanto, não entende a identidade em uma relação de interação com a alteridade, com o diferente, aquele que não é o que eu sou. Essa estratégia considera a alteridade (o diferente) em uma relação de conflito, ou seja, aquele que não é como eu sou (ocidental; heterossexual; etc) é menos, é inferior, é errado aos olhos de Deus e, portanto, deve ser combatido e perseguido.

É importante ressaltar que as identidades podem, sim, levar a conflitos. Entretanto, elas não precisam necessariamente ter esse destino. Pode-se aprender muito com aquele que não é como eu sou, que pensa de uma maneira diferente, age de outro modo, tem outras crenças, veste-se de um jeito diverso do meu ou se relaciona com pessoas com as quais eu não me relaciono.

Mas lidar com a diferença, com as alteridades, é difícil. A diferença incomoda, faz pensar se de fato nossas Verdades são as “verdadeiras”, se a nossa visão de mundo é A visão de mundo. Os seres humanos, no geral, seja individualmente, seja em grupo, tem muita dificuldade em lidar com a diversidade, já que ela exige reflexão, análise e, muitas vezes, a constatação de que se estava equivocado, ou então, ao menos, de que existem outras maneiras possíveis de se fazer determinadas ações ou de se encarar certas realidades. Por isso é que se tenta tornar todos iguais, iguais a MIM, para que EU possa entender, para que faça sentido na MINHA concepção...



¹Magali do Nascimento Cunha é jornalista e doutora em Ciências da Comunicação. O trecho foi retirado de seu artigo “O que se esconde atrás do caso Marco Feliciano da Comissão de Direitos Humanos”, disponível em http://leonardoboff.wordpress.com/2013/05/09/o-que-se-esconde-atras-do-caso-marco-feliciano-da-comissao-de-direitos-humanos/

quarta-feira, 8 de maio de 2013

O biológico e o cultural


Os humanos são seres biológicos e também seres culturais. Isso pode, em um primeiro momento, parecer uma constatação básica, primária, banal. No entanto, é por não se ter total clareza acerca dessa dupla caracterização do que é o humano que muitos fenômenos são visto como anormais, ridículos ou “bárbaros”. Se todos os homens são seres biológicos, ou orgânicos, e precisam comer, dormir, respirar, isto é, possuem funções vitais, por que os hábitos entre diferentes grupos sociais são tão diversos uns dos outros?

A resposta está justamente no fato de que os humanos são também culturais, além de seres biológicos, como explica o antropólogo Roque Laraia: “Não se pode ignorar que o homem, membro proeminente da ordem dos primatas, depende muito de seu equipamento biológico. Para se manter vivo, independente do sistema cultural ao qual pertença, ele tem que satisfazer um número determinado de funções vitais, como a alimentação, o sono, a respiração, a atividade sexual etc. Mas, embora estas funções sejam comuns a toda a humanidade, a maneira de satisfazê-la varia de uma cultura para outra. É esta grande variedade na operação de um número tão pequeno de funções que faz com que o homem seja considerado um ser predominantemente cultural”.

Alimentar-se, por exemplo, é uma necessidade biológica que todos os seres humanos, de todos os lugares do planeta, possuem. Entretanto, o que se come e a maneira pela qual se alimenta são características culturais e, portanto, específicas para cada grupo humano. As rãs são consideradas iguarias na França, mas parece ser grande absurdo para um brasileiro comer esse anfíbio. A carne de vaca, imprescindível nos churrascos brasileiros, é proibida aos hindus. Do mesmo modo, a carne de porco não é permitida a alguns povos por questões religiosas.

A maneira pela qual se alimenta também é variável de localidade para localidade. Se os brasileiros normalmente se utilizam de garfo e faca, aos japoneses é mais comum o uso de palitos (hashi). E outras sociedades preferem utilizar as próprias mãos para se alimentar. Além disso, o ato de comer pode ser público para algumas culturas, ou uma atividade privada para outras. Um arroto após a refeição pode ser entendido como um sinal de que a comida estava boa ou, em outro contexto cultural, ser um sinal de má educação.

Dar à luz é um ato biológico e restrito aos seres humanos do sexo feminino. A maneira como se faz o nascimento de um bebê, entretanto, pode variar bastante no que diz respeito à posição em que a mãe se encontra durante esse ato: estamos acostumados a ver a mãe deitada sobre as costas, mas entre algumas tribos indígenas a posição convencional é de cócoras. É possível se pensar, ainda, em partos que acontecem com a mãe estando em pé.

Os exemplos de diferenças culturais são infinitos. Variam as formas como as pessoas comem, como dormem (em camas, em redes, etc), a maneira como têm relações sexuais, as bebidas que tomam, etc. O que deve ser evidenciado, portanto, é que o ser humano, apesar de biológico, é um ser predominantemente cultural, ou seja, o comportamento humano dos sujeitos de uma cultura dependem de um aprendizado social a que eles estão submetidos. 

Por que se faz relevante ressaltar o componente cultural do humano? Ora, que o ser humano é biológico é evidente: todos precisam dormir, comer, beber, descansar. Muitos, entretanto, tentam minimizar os efeitos da cultura na vida dos indivíduos, sobrevalorizando a biologia. Esses indivíduos tendem a ver como “naturais” várias questões que, na verdade, são culturais. E o problema está quando se tende a ver como natural a sua própria prática cultural (como comer carne de vaca, por exemplo, ou usar talheres durante as refeições) e como “anormais”, ridículas ou inferiores as práticas culturais dos outros (por exemplo comer rãs ou utilizar as próprias mãos para se alimentar durante as refeições).

Sabendo, pois, que a partir de uma pequena quantidade de funções vitais, ou seja, biológicas, os seres humanos de diversos grupos desenvolveram maneiras diferentes de satisfazê-las, criando suas próprias culturas, torna-se evidente que a maioria das práticas humanas são sociais, isto é, são aprendidas durante o processo de socialização (que começa na família, continua na escola, etc). Tendo essa premissa em mente, não faz sentido considerar todas as práticas que são diferentes das nossas como sendo “bárbaras”, inferiores ou ridículas.

Somos todos seres biológicos. Mas somos seres biológicos que produzimos cultura, sendo também, portanto, seres culturais.



Sugestão de leitura:
- Livro “Cultura: um conceito antropológico”, de Roque de Barros Laraia.