domingo, 30 de novembro de 2014

Ode à Solidão

Já namorei,
agora estou só.
Já convivi com muitos amigos,
no momento, prefiro minha própria companhia.

Descobri que morar sozinho
tem suas vantagens
Que comer só é ótimo
Ir ao cinema sem companhia pode ser interessante.

Não preciso estar cercado de pessoas
todo o tempo
para estar feliz.

Não tenho aversão às pessoas,
mas estou vivendo um momento
em que prefiro estar só. 

quarta-feira, 2 de abril de 2014

O diálogo complexo


Elx se recusa a se rotular.
Quando lhe perguntam “você é gay?”, responde “não”.
“Hétero?!”
“Também não.”
“Ué, então é assexual?”
“Não, não sou assexual.”
“Ah tá, entendi. Você é bi!”
“Também não, não sou bi.”
“Mas o que você é então?”
“Sou um ser humano que se interessa por outro ser humano, independente de seu gênero.”

Pessoas se apaixonam por pessoas.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O encontro e o celular


“Ai, meu Deus, vou me atrasar!”. O seu cabelo, como acontecia na maior parte das vezes, não estava lhe obedecendo. Olha para o espelho e pensa: “não, não está bom”. Mais uma tentativa: pomada, pente, laquê. Ok. Estava “menos ruim” agora. Válter estava muito ansioso. Depois já de alguns meses sozinho, finalmente tinha um encontro. “Preciso malhar mais...”, fala, em voz alta, ao olhar para o espelho novamente. Estava sozinho em casa e só lhe restavam mais dez minutos para acabar de se arrumar. Escovou os dentes (duas vezes, por precaução), passou mais perfume, deu uma última olhada no espelho. Desceu as escadas.

Eram onze horas em ponto quando, da janela da cozinha, Válter viu um carro estacionar em frente à sua casa. “Pontual”, pensou ele. Sacou rapidamente o seu smartphone do bolso e mandou um SMS: “É você? Buzina!”. Ouviu, imediatamente, duas curtas buzinadas. “Era ele”, constatou. Lucas havia chegado.

Estava em um carro cinza, importado. Válter respirou fundo, abriu a porta do carro e entrou. “E aí, seu chato, vamos dar uma volta então?”, disparou Lucas, sem tirar os olhos do celular que se encontrava em suas mãos. Vestia uma camiseta estilo polo da Hollister – a marca favorita dos gays, pelo menos naquela região – e já foi arrancando com o carro. Válter, por precaução, havia preferido combinar de darem uma volta pela cidade antes de voltarem para a sua casa, assim poderia analisar se não se tratava de um desequilibrado, maníaco, etc. Pelo menos foi isso o que justificou para Lucas. Sabia que era perigoso de qualquer modo, mas não estava com medo. Só queria se certificar de que valia mesmo a pena levar aquele rapaz para dentro de sua casa e, portanto, seria bom um pouco de conversa a fim de chegar a essa certeza.

Ao passarem pela avenida mais movimentada da cidade, o “point” noturno – não que naquele dia houvesse muito movimento, afinal de contas, era uma terça-feira – Lucas comentou estar com fome e resolveu parar em algum lugar para pedir um lanche. O restaurante já estava quase fechando, assim, Lucas perguntou, ainda sem descer de seu carro importado: “Ainda dá tempo de pedir um lanche?”. O funcionário do local analisou rapidamente o veículo em que os dois rapazes estavam e respondeu: “Claro, entrem!”.

Sentaram-se em uma das várias mesas que estavam vazias e Lucas começou a olhar o cardápio. O garçom, um senhor magro, grisalho, de aparência cansada e que, com certeza, já estava contando os minutos para ir embora, chegou à mesa e ficou, com um olhar levemente marcado pelo tédio, esperando os rapazes fazerem o pedido. Válter tinha jantado e não estava com fome. Pediu um suco de laranja sem açúcar. Seu acompanhante pediu o lanche que queria e, assim que o garçom levou o cardápio, retirou seu smartphone da calça e começou a digitar. Ele estava sem internet móvel pois havia esquecido de pagar a conta – assim tinha contado a Válter naquela noite, quando ainda se encontrava em sua casa, antes de combinarem o encontro –, mas o local em que estavam possuía wireless. Portanto, lá estava Lucas a checar seu celular.

“Natural”, imaginou Válter. “Ele deve estar olhando se não há algo de urgente...”. Mas Lucas não largava o celular e também não puxava nenhum assunto. Discretamente, Válter conseguiu ver o que o outro fazia em seu celular: WhatsApp, Facebook, e... Hornet! “Hornet?”, espantou-se. É verdade que eles haviam se conhecido por intermédio do aplicativo Tinder, mas qual era o propósito do rapaz em marcar um encontro, pessoalmente, e não largar o celular? E, ainda por cima, ficar checando o seu Hornet? “Era mais lógico eu ter ficado na minha casa, ele ter ficado na casa dele, e nós conversarmos pelo celular, ué”, constatou, cabisbaixo.

Para ver se Lucas se tocava da situação, Válter também pegou seu celular e começou a usá-lo. O outro nem percebeu, tão absorto que estava com suas próprias redes sociais. “Você é viciado em celular, ein?”, disparou, então, em outra tentativa de chamar a atenção. “Hehehe, nem sou”, Lucas respondeu, novamente sem o encarar. E então, de repente, mirou os olhos de seu companheiro e disse: “Vou ao banheiro, okay?”.

“Oh Céus, que tipo de encontro é esse em que a outra pessoa não larga o celular?”, questionou-se Válter.

Lucas voltou do banheiro, com o celular na mão, ainda digitando. O garçom veio à mesa, com o olhar agora já numa mescla entre tédio e raiva – além dos rapazes, só havia outro casal, um homem e uma mulher, no estabelecimento – e trouxe o lanche e o suco. Mas Lucas pareceu nem perceber a presença do lanche na mesa. Será que a fome havia passado? “Você não vai comer?”, Válter, já um pouco cansado da situação, perguntou. “Ah, vou, verdade”. Largou o celular e, rapidamente, comeu o lanche todo.

Depois de pagarem, Lucas ainda deu uma última olhadela em seu celular e, então, seguiram para o carro. “Viu só, eu não sou nenhum louco”, brincou. Estavam, agora, novamente em frente à casa de Válter. “Você quer entrar?”. “Bom, já que você está me convidando...”.

Válter usou a clássica desculpa de ver um filme, na verdade, um novo seriado gay. Lucas aceitou. Enquanto viam a primeira cena do seriado, Válter, sem prestar a menor atenção, pensava: “Finalmente, um encontro normal!”. Lucas, que estava deitado em seu colo, levantou-se para ir ao banheiro. Assim que voltou, eles se beijaram: “Aí sim”, animava-se Válter, afinal, já fazia um bom tempo que não ficava com alguém. O beijo foi ficando mais intenso, as mãos começaram a percorrer as costas. O clima esquentava. Mordidas no pescoço, primeiras insinuações de tirarem as camisetas. E, então, no meio de todo aquele quente amasso, Lucas pergunta:

- Qual a senha do seu wi-fi?

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A história de Jonamar


Jonamar. “Que nome estranho!”, sempre diziam. Mas era um bonito nome, pelo menos aos olhos de sua querida mãe. “Teu nome termina com AMAR, meu filho. Pode haver verbo melhor para se chamar?”. Entretanto, se tinha algo que Jonamar não conhecia, esse algo era o amor. Amor romântico, amor carnal, essa coisa de “metades da laranja”, de “a tampa da panela”.

Jonamar se interessava pelas garotas. As garotas não se interessavam por Jonamar. Depois de anos, Jonamar resolveu se interessar por garotos. Mas os garotos não queriam amar. O verbo era outro, que também terminava com “ar”...

Depois de tanto ser aproveitado pelos garotos, Jonamar desistiu de amar. Jonamar se deu conta de que o amor romântico eterno, ideal, perfeito, era coisa de TV. Era criado no cinema, propagado pela publicidade, inventado por mentes humanas que nunca haviam amado daquele jeito.

Jonamar aprendeu, então, que ele só poderia, só deveria, amar incondicionalmente a si mesmo. Era isso! Como as garotas se interessariam por ele se Jonamar não se achava interessante? Como os garotos poderiam o amar se o próprio Jonamar não se amava? Jonamar aprendeu a gostar de si mesmo, a conviver bem consigo mesmo, a se divertir com sua própria companhia, a viver sozinho e lidar com a solidão.

Agora Jonamar está pronto para conhecer novas garotas, garotos. Ele já sabe que o amor da televisão não é igual ao da vida real. Jonamar já não espera ser amado. Jonamar ama, Jonamar se ama. 

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Uma questão espinhosa

 Então, é que eu estou com algumas espinhas...
Dermatologista 1:
 ROACUTAN!

 Eu já fui a outro dermatologista, mas é que estou com espinhas...
Dermatologista 2:
 Espinhas?! ROACUTAN!!

 Olha, eu já fui a dois outros dermatologistas por causa de espinha, e...
Dermatologista 3:
 Péssimos dermatologistas! Vejo que você continua com espinhas. Espinha em dermatologia só tem um nome.
 Acne?
 ROACUTAN!!!